BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O velho petista



Todo petista, que passou dos 50 anos de idade, é como aquele cara que, na sua infância, seus pais sustentaram a tese que papai Noel existia. Era o bom velhinho quem lhe trazia presente. E, assim, todo Natal seu pai colocava o presente debaixo da árvore, quando ele não estava, e depois dizia: "olha o que papai Noel trouxe!".

Veio a adolescência e seus pais não tiveram a coragem de contar-lhe a verdade: papai Noel era um conto de Natal, uma utopia. Chegou a maioridade e vieram as primeiras revelações e a verdade por meio de outras pessoas, de que o bom velhinho era uma fantasia, uma mentirinha que todos os pais contam para os filhos. Ele teimava, e não aceitava, continuando acreditar: "papai Noel existe, sim!, eu acredito, e meus pais jamais iriam mentir pra mim".

Hoje, com 50 anos, mesmo sabendo que seus filhos já nasceram descrentes desse conto — consultam o Google —, todos os anos, no Natal, ele finge não ver sua mulher colocar seu presente debaixo da árvore. Com medo de que seus sonhos sejam sufocados pela dura realidade, ele rejeita qualquer argumento que desnude sua crença pueril. Ele continua fiel à história da sua velha infância. Pressente que o medo da dor da verdade possa ser maior, e pode lhe ferir mais do que a própria verdade pujante e aceita. O medo da dor da verdade só revela, mesmo, a sua própria covardia.

PAPAI NOEL É SUA MULHER, CARALHO!
QUANDO É QUE VOCÊ VAI ACEITAR ISSO?!

© Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Abril de 2015.

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