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Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

sábado, 11 de outubro de 2014

Heroísmo e vitimismo

Há uma crise nebulosa pairando sobre o mundo, que poucos conseguem sentir. E não se trata de guerras ou revoluções. Falo de uma inexistência coletiva que parece virar nuvem diante da vida: você não consegue apalpar, mas consegue plasmar, ela tem formas definidas.

Não sei se houve outro período na história, mas hoje vivemos uma era onde os heróis são levados aos tribunais e cortes do universo e o vitimismo desponta triunfante e arrogante. Não!, eu não refiro aos heróis de guerra, mas aqueles que no dia a dia labutam por sua vida e sua prole, como sobreviventes. Do outro lado, um vitimismo, ancorado na política, querendo emergir, mandar no mundo, sem autonomia e poder para tanto. E assim,  vai o mundo capengando, vivendo sem heróis e caminhando para um real fracasso.

A coisa criou raiz e tentáculos, claro, na política. Está cheio de mandatários babacas recolhendo as angústias de grupelhos de minorias, para depois atiçá-los, viciando-os no ódio de vinganças passadas; e, assim, poucos moradores de rua vão sendo recolhidos do seu relento. Política de interesses. Interesse em chocar as pessoas umas contra as outras e depois ficar assistindo tudo de camarote, vendo o circo pegando fogo. Como aquele insulto infantil de rua: "quem for homem cospe aqui". E o cuspe ia na cara do outro, porque o "aqui" era a mão do provocador que a retirava antes da cusparada. Era o estopim.

O cartaz abaixo, encaminhado e depois compartilhado nas redes sociais, tem o traço visível de uma militância política dessas minorias autoritárias — tem cheiro da tinta. Esses que não se conformam com a natureza humana: homens e mulheres são homens e mulheres desde que o mundo é mundo; é da criação, é da natureza. Não há o que mudar. Então, instigam a segregação por outros grupos e etnias. Se há os homossexuais, esses deverão ser respeitados, acolhidos, como cidadãos debaixo das mesmas leis, sem necessidade de mudá-las. Precisamos de mais educação, respeito e não de novas leis.


A peça gráfica é acintosa, provocativa e preconceituosa com os que estão fora desse grupo de "dois iguais". Como se todos os casais que formam família deixassem seus filhos jogados pelo mundo. Querem combater o preconceito com acusação, e com outro preconceito. Isso é uma guerra.

Tudo começou num dos debates políticos da Eleição para presidente deste ano. Quando o candidato Levy Fidelix-PRTB, ao ser provocado pela candidata Luciana Genro-PSOL — quis saber sua opinião sobre homossexuais. Ele disse, dentro de uma forma pueril e sem alardes, que aparelho excretor não reproduz; dois iguais não fazem filho. Nada de mais que uma constatação óbvia.

O busílis é que suas palavras passaram das fronteiras do debate; Fidelix foi levado aos tribunais da inquisição do movimento LGBT. Ele foi tachado de homofóbico. Já no outro canto do ringue, sua fala soou bem entre os grupos mais conservadores. Em tudo, ficou a mão suja da política que provoca os embates e depois sai de cena, deixando as pessoas se gladiando: "quem for homem cospe aqui".

A etimologia da palavra "homofobia" vem de: Homo = homem, gênero; Fobia = medo, aversão. Podendo ser traduzida como "medo de homem". Não deveria ser utilizada para classificar pessoas que odeiam homossexuais. Infelizmente pegou e agora serve para tudo, até quando não há ofensa nenhuma. Virou doce na boca da militância.

A discriminação entre grupos sociais existe desde que o mundo é mundo; e não é, exclusivamente, pelas opções sexuais. Mas há lugares neste mundo onde a coisa é pior, basta ver como homossexuais são tratados em países do Oriente Médio. No Iraque, por exemplo, quando descobertos, eles são enforcados em guindastes. O que nós, ocidentais, temos que fazer para que não haja ódio, e chegar ao extremismo, é não deixar-se levar pelos militantes desses grupos autoritários. Vejo pessoas inocentes pegando carona nessas falas e provocações, por achar bonito e politicamente correto; e no fundo, não percebem que estão sendo instrumentos de um mal que, por ódio, segrega mais ainda a sociedade.

Quais são os números oficiais de homossexuais no Brasil? Desses, quais sofrem com preconceito? Quem disse que dois iguais adotam filhos que dois diferentes jogam fora? Onde existem estatísticas, com números, que provem a veracidade desse cartaz? Não há. O que há, como em todos esses interesses, é a mentira como método de ludibriar, embriagar a população passiva e desatenta.

Em tempos de redes sociais, todo mundo acha agora que pode opinar sobre tudo, sem ter compromisso com a verdade. E como já disse na minha crônica anterior: a verdade é inequívoca. Na ânsia de palpitar, sem conhecer a natureza, as causas e consequências do que diz, pode fazer de algo pequeno uma bomba.  ("Não é pelos vinte centavos". Este foi o estopim das manifestações de junho de 2013 pelo Brasil.) Sem conhecer o que realmente compartilham nas redes sociais, vão fomentando o ódio  e apontando uma arma contra eles mesmos.

Vi recentemente um hangout com o Professor Olavo de Carvalho, cujo o tema era o amor. Vi, revi e transformei em palavras escritas um trecho que parece-se muito com o que estou trazendo aqui. Disse Olavo de Carvalho:
"Essa crise, evidentemente, não afeta somente a alta cultura, mas afeta profundamente a vida pessoal. Não é só uma crise de inteligência superior, não. É uma crise do entendimento da vida no dia a dia. A pessoa não entende o que está acontecendo; não entende a sua própria vida, e, portanto, não chega ao nível mínimo de maturidade para tomar decisões, entender o que se passa. O resultado é o estado permanente da exasperação emocional. Onde todo mundo se sente vítima, todo mundo está ofendido o tempo todo. E todo mundo fica buscando compensações. E a vida, com isso, vai piorando cada vez mais. O pior é que essa imaturidade, essa exasperação emocional hoje é explorada politicamente. São correntes políticas que estão interessadas em fazer as pessoas se sentirem cada vez mais oprimidas, cada vez mais injustiçadas, para dizer: 'eu vou proteger vocês; eu vou defendê-los dos malvados, etc.' E com isso estão criando um inferno. Estão transformando o ódio de todos contra todos. E para perceber isso, e perceber qual é a raiz do mal, a gente precisa ter alguma maturidade, alguma experiência de vida"
Olavo foi claro em tudo e tem razão, mais uma vez. As pessoas não estão percebendo o quanto estão sendo manipuladas pelo establishment político, como bonecos mamulengos. E por isso, aceitam qualquer coisa, não se indignam com nada que vem contra si. Acabam achando normal o que é anormal; achando lógico o ilógico; acolhendo o vitimismo em lugar do heroísmo. Não se chocam com aquilo que precisa se chocar — a corrupção, por exemplo —, mas se sentem mal, se amedrontam com as ninharias.

Essa história de homofobia no Brasil é como querer transformar uma gripe, que acometeu todos os membros de uma família, em epidemia; e por isso o governo deverá vacinar toda a população do país, porque quatro pessoas estão doentes. Enquanto isso, as doenças epidêmicas que, de fato, estamos vivendo por contágio, e em grande escala, não são abordadas e muito menos vacinadas. É preciso despertar.

Os números de homicídios no Brasil em 2014 já chegam a 60 mil/ano. É muita gente morrendo, por inúmeras causas, ou sem causa alguma. Mais que muitas guerras já mataram. As instituições estão falidas, e o crime e criminosos avançam sobre a população em geral, que está totalmente desprotegida.

A candidata Luciana Genro-PSOL, fervorosa na causa do movimento LGBT, que defende, disse, num dos debates, que um homossexual morre por dia vítima de homofobia. Mesmo que esse número esteja correto — ela sempre descreve em suas falas como "milhares" e "milhões", sem dar um número verdadeiro — não há uma epidemia, não dá para considerar que há homofobia na sociedade brasileira. Homossexuais, que estão fora do seu movimento, vivem muito bem com a sociedade predominantemente heterossexual; mas o vitimismo do movimento quer triunfar e se impor pela hostes e desonestidade política de uma Luciana Genro.

Se considerarmos que no Brasil morrem assassinadas 60 mil pessoas ao ano; se considerarmos que um homossexual morre por dia (segundo Luciana Genro), temos: do total 0,6% de mortes por homofobia. E os outros 99,4% de motivações?  Fazendo outra consideração hipotética que, a população do país esteja em torno de 200 milhões; considerando que o número de homossexuais no pais representa 9% da população (18 milhões*); considerando os números de assassinatos de homossexuais/ano são 365 (segundo Luciana Genro), temos: 0,002% de assassinatos num universo de 18 milhões. Este número, embora apareça nas estatísticas (?), não pode ser relevante às demais motivações de assassinatos, como o tráfico de drogas, por exemplo. O Brasil não pode ser tachado de país homofóbico por esse percentual ínfimo.

Quando vem essa conversa mole de se exigir leis específicas para tratar os chamados crimes homofóbicos, lembro a Constituição de 1988:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
        I -  construir uma sociedade livre, justa e solidária;
        II -  garantir o desenvolvimento nacional;
        III -  erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
        IV -  promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,...
Como disse no início desse longo texto — necessário —, o mundo está em crise, carente de muitas coisas essenciais, menos de tecnologia. As bases da sociedade estão sendo vilipendiadas e solapadas. O heroísmo deu lugar ao vitimismo, sem trégua. Famílias estão desmoralizadas e sendo substituídas por outras formas de união. Onde iremos parar? Não sei, Mas sei que é preciso pôr um basta nisso tudo, senão não caminharemos juntos; e as consequências serão mais divisões e conflitos, sem que nenhum lado tenha razão e muito menos noção do porquê tudo começou.



(*) dados colhidos por sites na internet. Não sendo oficiais.

 © Antônio de Oliveira / cronista, arquiteto e urbanista / Outubro de 2014.

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