BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 12 de março de 2012

Cartazes de filmes

Como sabem, velharia é comigo mesmo. Cultivo as coisas antigas sem medo de ser chamado de “retrô”. Por sinal, eu até gosto... Já tentei confundir minha mente (e o coração) a querer gostar do novo, mas eu volto sempre aos objetos abandonados, por mero descuido, no buffet da sala de jantar; como já disse, dos “tesouros enterrados”.

Poucas pessoas entenderem esta frase que escrevi numa crônica de 2010. Cabe explicação. Algumas coisas são tão valiosas em nossas vidas que, acho que deveriam ficar escondidas para serem preservadas. Por isso usei o termo “enterrar”, ao invés de guardar. As histórias fictícias de piratas contam de tesouros enterrados. E quando alguém os enterra, entendo que tinha grande valor e só aquela pessoa sabia da sua existência. O que é bom deve ser enterrado para sempre. No futuro, serão como peças antigas que arqueólogos escavaram para descobrir nosso passado.

Tenho uma paixão - até ontem era contida - por cartazes de filmes (posters). De preferência pelos filmes antigos. Acho que os cartazes tinham um papel fundamental nas campanhas publicitárias, de divulgação e bilheterias, nos tempos do Cinemascope. Quando não havia tantos meios de publicidade e quase tudo se resumia aos jornais e magazines.

Há peculiaridades nesses cartazes. O segundo nome da atriz/ator/diretor era mais relevante que o primeiro e por isso se escreviam em caixa de letra maior. Outra curiosidade era “Cinemascope” (you see it without glasses!) que aparecia como um chamariz nos cartazes. Cinemascope é o que chamamos hoje de “widescreen”. Foi criado pela Twentieth Century Fox, e utilizado na produção e exibição de filmes entre 1953 até 1967.

Como não havia grandes produções a cores, era um chamariz também o “technicolor”. Neste mesmo período, os filmes em preto e branco ainda sobreviviam, embora já se fizessem os “technicolors”. A resistência de alguns diretores era porque alguns filmes em P&B escondiam imperfeições de maquiagem e cenários que o colorido expunha demais. E o público poderia perceber tais imperfeições.

Liguei a tv outro dia e pude ver ainda o final de uma entrevista (que pena!) de um ilustrador de filmes brasileiros. Nem seu nome lembro mais. Ele era ilustrador, na década de 70, de cartazes de filmes brasileiros, na época da pornochanchada, de atrizes como Vera Fisher, Nádia Lippi, Helena Ramos e Aldine Muller; aquilo que chamávamos de “sala especial”. Ele conserva muitos desses cartazes como foram desenhados e produzidos. Uma relíquia.

Reuni uma coleção de cartazes dos filmes de Marilyn Monroe (sempre ela), para mostrar como era esta arte; onde o ilustrador tinha um papel determinante na publicidade, não usando nenhum computador ou tecnologia gráfica para criá-los. A coisa nascia no papel, com pincel e guache. As ilustrações tinham a perfeição de fotografias e puxavam das silhuetas e corpos os destaques mais acentuados: pernas, bocas, mãos e gestos. Noutras eram fotos montadas, com a mesma técnica.

Adorável pecadora - 1960

Como agarrar um milinário - 1953
 
O rio das almas perdidas - 1954
 
Quanto mais quente melhor - 1959


O príncipe encantado - 1957

Os desajustados - 1961

Almas desesperadas - 1952
 
Nunca fui Santa - 1956
O pecado mora ao lado - 1955
Os homens preferem as loiras - 1954


© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / março de 2012.

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