BEM-VINDOS À CRÔNICAS, ETC.


Amor é privilégio de maduros / estendidos na mais estreita cama, / que se torna a mais / larga e mais relvosa, / roçando, em cada poro, o céu do corpo. / É isto, amor: o ganho não previsto, / o prêmio subterrâneo e coruscante, / leitura de relâmpago cifrado, /que, decifrado, nada mais existe / valendo a pena e o preço do terrestre, / salvo o minuto de ouro no relógio / minúsculo, vibrando no crepúsculo. / Amor é o que se aprende no limite, / depois de se arquivar toda a ciência / herdada, ouvida. / Amor começa tarde. (O Amor e seu tempoCarlos Drummond de Andrade)

terça-feira, 22 de março de 2011

A maior do interior


O escritor Luís Fernando Veríssimo, numa de suas crônicas, descreveu e justificou dez razões para o milionário Eike Batista dar parte de sua fortuna a ele. Fiquei pensando depois, quais seriam as minhas razões, ou como seria se fosse o oitavo na lista dos milionários do mundo. O que faria com tanta grana? Se é que preciso de tudo isso... Se estivesse apaixonado, talvez, desse muitos presentes a minha amada; cobriria sua rua com pedrinhas de brilhantes. Mas, preferiria não estar, senão acabaria ficando pobre e sem ver a cor da grana. De verdade, se não tivesse nenhuma paixão, acho que faria um bem à humanidade. Doaria em uma campanha universal pelo amor no planeta. Meu dinheiro renderia muito mais, com certeza; mais do que uma aplicação na bolsa, ou se comprasse uma cidade inteira para morar.

Esta coisa da paixão que se junta com dinheiro nos cega por muito. No futebol também há paixão, ou o futebol é sinônimo de paixão. Um torcedor certa vez me disse: se tivesse uma sorte na megasena, construiria uma grande arena de futebol para o seu time de coração – paixão de torcedor. E por ela ficamos até doentes, um sentimento que nunca acaba. Deixamos casamentos, namoros, amizades, mas a paixão pelo time, esta nunca morre; vai junto conosco e com a bandeira sobre a urna. Há pessoas que não entendem. Eu entendo até certo ponto, quando não se torna loucura de se ridicularizar por qualquer coisa: brigas, discussões e inimizades. Mesmo assim, fiquei surpreso com sua resposta. Cada um teria algo a fazer diante de tamanha fortuna, ele pensou no seu time de coração. Justo.

Chego a me emocionar quando me deparo com esta relação de afeto entre futebol e o torcedor. Vivo o futebol, torço, vibro e quando meu time perde fico irado, mas na manhã seguinte tudo já passou; vivo no limite de não adoecer por isso ou perder a fome. Adoro estádio de futebol, aquele clima, aquela emoção que só quem já foi sabe o que é. A torcida entusiasmada, cantando e gritando uníssono, empurrando o time a todo o momento, é de arrepiar.

Já confessei que sou palmeirense desde criança, mas tenho um segundo time na manga – quando um não ganha, fico feliz com o outro. Há lugar no peito para um segundo time? Afirmo que há sim! O time da minha cidade luta para retornar ao staff do futebol paulista. Já são mais de 12 anos que o São José EC peleja para voltar à elite do futebol. E se fosse pelo tamanho e pela paixão de sua torcida, o time já estaria lá. Cronistas esportivos dizem que ela é o grande patrimônio do clube; e ela se orgulha em dizer: é a maior do interior! Mas, como em toda competição na vida, tem os tempos de lutas até a batalha final e o triunfo. E é isso que temos feito: os jogadores em campo e nós nas arquibancadas.

No ano passado, num desses memoráveis dias de vitórias e estádio lotado, fui chamado pelo torcedor Guilherme Miranda - arquiteto, companheiro de arquibancada e dono do Blog Torcedor da Águia (Clique aqui) - a fazer uma música em comemoração ao aniversário do seu Blog. A encomenda era uma música que homenageasse – merecidamente - a torcida. É de praxe que, todos os times de futebol tenham um hino; mas uma torcida que tem hino, era a primeira vez. De vez em quando, eu me arrisco a escrever letras de músicas, é minha contribuição nas parcerias. Mexo no violão, para algumas raras peças que não me deixam rubros de vergonha, mas na hora de compor, com notas e acordes, não sai nada – já tentei. Então, aguardei meu parceiro de música retornar de viagem para compor, iniciarmos o processo. Enquanto ele não vinha, rascunhei uma letra. Quanto retornou de viagem nos encontramos, e a música saiu no mesmo dia. Dei o nome da marchinha (de carnaval) de “Torcida Águia do Vale”. A letra é uma volta no tempo, da paixão  que nasceu desde o preto e branco para o azul e branco de sua camisa; do formigão do vale para a águia; e do seu inesquecível herói do acesso de 1980, Tião Marino - aquele que, dentre os jogadores de futebol depois de Dadá Maravilha, era o único que “parava no ar” para cabecear uma bola. A letra e o vídeo, agora disponíveis no youtube – com os créditos do Renato Emanuel - já contam com mais de 850 acessos. A voz é de Eduardo Borges e Mima Barros.

Esses torcedores não deixam de se apaixonar nunca; e enquanto o time não subir, será assim: uma música atrás da outra e um grito só: vai São José!

Torcida Águia do Vale
(Eduardo Borges / Anttonio Buarque)
11/10/10

Eu vou, eu vou, eu vou cantar gritar
O manto azul é a nossa cor
O manto azul é o nosso amor
Torcida águia do vale
A maior do interior

Desde o tempo do “formigão”
Do preto e branco fez o azul
Vimos nascer, crescer uma nação
De leste a oeste, de norte a sul

O amor por ti vem das vitórias
Nossa torcida em ti constrói
Esta camisa tem história
Tião Marino, o nosso eterno herói

Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe Águia
Enche de orgulho o nosso coração
(com luta e garra de campeão)
“Tá na rede” é gol!
Uma explosão

FINAL (só com palmas)

♫ Sou joseense com muito orgulho,
Com muito amor... ♫



© Antônio de Oliveira / arquiteto e urbanista / março de 2011.

2 comentários:

Renato Emanuel disse...

Maravilhoso... realmente, seu blog possui crônicas fabulosas e esta postagem certamente já estava merecendo um espaço por aqui. Agradeço pela citação em relação ao video (feito com muito carinho), mas uma coisa eu posso te dizer com toda certeza... entre tantas alegrias e muitas tristezas nestes anos em que acompanho o São José, uma das coisas que mais me alegra, é ter a oportunidade de conhecer pessoas grandiosas (como você, o Guilherme Miranda, o Vieira Junior) entre tantos outras pessoas que dividem a mesma Paixão pelo São José!
Se o São José subir, ótimo... um sonho que se realiza, e se não subir...xingamos ficamos chateados, um pouco revoltados mas sabemos que ano que vem estaremos lá novamente acreditando jogo após jogo e estes amigos que o amor pelo São José nos traz, estará no mesmo barco seguindo e acreditando junto comigo sempre e é isso que que me faz ainda mais Joseense de coração!
Ultimamente me perguntam contra quem o São Paulo (time qual aprendi a amar por herança familiar) vai jogar, ou quando jogará ou até mesmo com quantos pontos o SPFC está e a resposta é sempre a mesma... Não sei!
Mas se me perguntarem qualquer coisa do São José, mesmo que seja a escalação do time de de outras temporadas... respondo na hora, e sabe porque? Existe dentro de mim um amor profundo por esta cidade e por este time e que automaticamente me diz que neste momento minha torcida é muito mais importante para o São José do que para São Paulo!
Cada um com seu cada um, mas da ultima vez em que os dois se enfrentaram (SJEC 1x5 SPFC) eu estava do lado azul do Martins Pereira e sai extremamente frustado com o resultado, mas feliz por ter apoiado naquele dia o time que mais precisava de mim.
Torcer para times que estão em evidencia na midia e que possuem estrutura e capital para se manterem sempre em disputa de titulos é sempre uma aposta vantajosa e claramente óbvia, mas torcer ano após ano para um time que mesmo a mais de 1 década rebaixado, mesmo com as inumeras decepções em tentativas frustradas de acesso é capaz de levar ao estádio mais torcedores do que qualquer outro time do interior Paulista, mesmo que este esteja na primeira divisão;
A cidade de São José dos Campos, e claro a torcida joseense por tudo que é, por tudo que representa e por tudo que já passou não merece mais um ano sequer na série A2 do futebol Paulista; merece sim estar brigando todo ano de igual para igual com os times da capital, estando na série A1 merecerá um estádio com pelo menos o dobro da capacidade existente hoje, pois o que temos hoje no Martins Pereira é suficiente apenas para a série A2, mas certamente o time voltando de onde nunca deveria ter saído merecerá uma Arena que respeite a grandeza e a Paixão desta torcida que sem sombras de dúvida é a maior do interior de São Paulo!

Parabéns e obrigado meu amigo Antônio!

Renato Emanuel

Mima Barros disse...

Escrever é um dom tão admirável quanto quem toca um instrumento, quem faz um arranjo musical, o conjunto da obra disso tudo é ainda melhor...e você amigo tem esse dom assim como o Eduardo então explore, e explore também essa parceria que tem gerado filhos(músicas) admiráveis...Fica com Deus!!